Durante o final de semana estávamos conversando com uma banda sobre um novo projeto e na conversa sobre negócios comentaram sobre um artigo do The Guardian que contava um pouco sobre a inovação do Radiohead nesse cenário. Li o artigo e achei super interessante, tenho certeza que já havíamos pensado nesse assunto e o jornalista exemplificou o nosso pensamento e também a proposta que está nos motivando com nossa empresa, e não somente no universo cultural, mas em todos os mundos possíveis. Vou parar de enrolar e colocar aqui a tradução e adaptação do texto e o link com o texto original esta no final.
Se você quer alcançar o coração do Radiohead enquanto eles se preparam para lançar seu novo álbum, previsto para junho, só existe um lugar onde você deve ir. É um pequeno escritório azul no centro de Londres. No número 41 da Great Portland Street para ser mais preciso, somente algumas portas da, sem muita importância, embaixada da Republica Democrática do Congo e um showroom de um fabricante Dinamarquês de torneiras.
Este é o Escritório da Hardwick & Morris, os contadores do Radiohead.
Será improvável que consiga entrar no prédio. Em uma recente tarde, dois empregados que estavam em sua pausa para um cigarro, se recusaram a dizer qualquer coisa sobre a empresa, o Radiohead ou até mesmo sobre os meandros da contabilidade. “Por que você gostaria de saber sobre isso?” um deles perguntou. “Isso fará você dormir.”
Mas esse edifício é o endereço de duas empresas que podem ser as mais importantes para o Radiohead nesse momento: Dawn Chorus Limited Liability Partnership e o terrivelmente soletrado Dawnnchoruss Limited – empresas criadas pela banda nos últimos seis meses para aparentemente lidar com todo o dinheiro que o disco gerará.
O Radiohead tem, na verdade, muitas empresas registradas neste endereço que vão desde a irreverente nomeada LLLP LLP até a mais irreverente ainda Unreliable Ltd (Não Confiável Ltda em uma tradução livre). Tem até uma chamada de Random Rubish Ltd (Lixo Aleatório Ltda em tradução livre).
Parece que o Radiohead é mais um conglomerado do que somente uma banda, tendo uma engenharia financeira que todos esperariam de empresários do Vale do Silício do que de bandas de Oxfordshire. Eles tem sido diretores de aproximadamente 20 companhias desde que se juntaram, de acordo com Companies House (órgão do governo britânico que controla abertura e fechamento de empresas). E isto não é apenas interessante para bate-papos. A engenharia financeira do Radiohead acende uma luz em um dos assuntos menos discutidos na industria da música: Se você quer ser uma grande banda, ser tão bom em finanças pode lhe ajudar tão quanto, ser bom na música, ou pelo menos ter uma equipe que te dê o suporte necessário.
Um bom faro para os negócios, historicamente, não é algo associado geralmente aos músicos, daí as diversas histórias de empresários explorando seus agenciados. Existe o Colonel Tom Parker pegando tanto do Elvis, que ele ganhou mais que o próprio cantor, e o David Bowie, que aparentemente caiu em lágrimas com os gastos extravagantes do empresário Tony Defries’. Até mesmo nos dias de hoje, quando esses tipos de gestores parecem poucos e distantes entre si, a percepção é que as bandas continuam sendo roubadas, se não pelo Spotify e pelo Youtube.
De acordo com Brian Message, da empresa de gere a companhia da banda, Courtyard Management, o Radiohead ainda não decidiu se irá disponibilizar seu novo álbum no Spotify, e seus projetos “lado-B” e algumas raridades começaram a desaparecer de serviços de streaming, um movimento identificado como resultado da transferencia dos álbuns da Parlaphone da Warner Music para a XL Recordings.
A história dos negócios do Radiohead começa no verão de 1993 quando a banda criou a empresa Radiohead Ltd para lidar com as rendas da turnê. A contabilidade dessa empresa revelou o quão súbito foi o crescimento da banda. Em seu primeiro ano, quando o Radiohead estava recebendo a atenção para o seu primeiro single Creep, eles tinham um volume de negócios de $ 264.746(R$ 1.020.635 ). Após os custos tiveram um prejuízo de $ 29 (R$ 112).
Mas logo após o lançamento de The Bends em 1995 o volume de negócios deu um salto. Foi para $ 1.075.891 (R$ 4.147.721) no ano seguinte ao lançamento do álbum, $3m (R$11.565.450 ) após OK Computer aparecer e quase $ 11.7m (R$ 45.105.255) depois de Hail to the Thief em 2003. Os 11 shows deste ano que não serão realizados em festivais, iniciando em Amsterdam em maio e incluindo os EUA em julho, irão dar um retorno de mais de $6.6m (R$ 25.445.310) em entradas, se assumirmos que serão vendidos todos os ingressos pelos valores divulgados.
O salto repentino na renda parece que fez a banda perceber que eles poderiam gerenciar esses assuntos melhor, porque em maio de 1996 eles criaram a W.A.S.T.E Products Ltd para produzir e vender mercadorias e as sempre crescentes vendas de camisetas. Isso pode não parecer muito, mas voltando aos anos 90 isso foi equivalente a criação do seu próprio serviço de streaming pelo Jay-Z.
O Radiohead então criou a Sandbag, uma empresa que oferecia a expertise da W.A.S.T.E , o que fez com que fosse criado novos braços, um armazém e centro de distribuição, Quicksand Distribuition, e uma subsidiaria Americana, Eleventy Five, cuja a atividade é incerta (ninguém do Radiohead comenta sobre esse assunto).
Mas o movimento nos negócios que fizeram o Radiohead famoso foi o In Rainbows – o álbum lançado por eles mesmos logo após deixarem a EMI, permitindo aos fãs que pagassem o que eles quisessem. E foi tudo o que você ouviu sobre isso: uma roleta de dinheiro para a banda, um sucesso de crítica e algo que assustou um industria inteira. Mas também isso foi algo que transformou o Radiohead no conglomerado que ele é hoje. A banda criou a _Xurbia_Xendless Ltd aparentemente para cuidar com as rendas geradas por esse álbum e desde então eles têm criado uma empresa similiar a essa para cada álbum lançado.
A abordagem deles parece ser mais complicada se comparada com outras bandas Britânicas. A banda indie, the xx, por exemplo, são diretores de apenas uma companhia Britânica registrada. Adele é diretora de 5 companhias, apesar de parecer ter um ganho maior que o Radiohead – uma de suas empresas fez $20.2m (R$ 77.878.070) de lucro logo após ela lançar o álbum 21. Quando caiu para $ 4.7m (R$ 18.120.145) em seu próximo período contábil, mas uma explicação de seus contadores nas notas explicativas diz que não existe motivo para se preocupar. Até mesmo Paul McCartney é diretor de apenas 8 empresas Britânicas de acordo com a Companies House.
E por que o Radiohead faz isso? É por que o seu baterista Phil Selway é um gênio em finanças e adora retornos (ele tem sido o secretário das companhias em diversas ocasiões)? É por que um membro do time de gerentes, Brian Message, é um contador aposentado? Aparentemente não. É simplesmente, e tediosamente, por que é SENSATO.
“Faz todo o sentido para eles fazer de cada projeto uma companhia separada.”, diz Filippa Connor, diretora da RNF Business Advisory é a única pessoa envolvida nas finanças do Radiohead que falou sobre o assunto, ainda que aparentemente só para corrigir um mal-entendido. Em 2013, ela liquidou a Radiohead Ltd para a banda, que ela fez questão de apontar que é uma prática normal. A empresa foi dissolvida com mais de $2.92m (R$ 11.257.622) em ativos. Uma liquidação voluntaria é uma ótima forma de passar a régua sobre certos projetos, ela disse.
“Tendo companhias individuais para cada projeto também os proteje, então se algum projeto der muito errado, isso não irá derrubar todo o edifício.” disse ela. “Se eles tivessem um disco que perdeu muito dinheiro, eles não querem que isso afete todo o resto; Eu sei que isso é improvável para o Radiohead, mas isso não deixa de ser sensato.” E isso protege a banda caso haja algum acidente durante alguma turnê, como aconteceu em 2012 antes de um concerto em Toronto quando um colapso no palco matou um técnico de bateria da banda.
“Eu olho a estrutura de negócios deles e isso não me faz dizer, ‘Oh meu Deus’,” disse Ian Mack, que ensina negócios na British and Irish Music Institute(BIMM). “Isso só parece a forma correta para gerenciar seus ganhos e protegê-los. É assim que as bandas deste tamanho operam agora.”
“E isso retira o brilho de suas músicas?” Ele pergunta. “É claro que não, eu não penso que a engenharia financeira venha até a cabeça do músico quando ele senta no piano, podemos colocar desta forma. Eles conseguem separar seu lado criativo de seu lado empreendedor. Esse é o negócio da musica, e a primeira palavra é muito importante.”
Essa visão é compartilhada pela Dr Victoria Tischler, uma reconhecida psicóloga que se especializou em criatividade e é honorável professora associada na University of Nottingham. Ela não recomendaria que o Radiohead volte para a fila se eles estiverem procurando um beneficio criativo. “Algumas bandas são inspiradas por seus passados privados,” ela diz “Mas eu tendo a concordar com o que dizem que para cada talento pobremente estimulado, uma centena é marcada.”
“Você poderia igualmente dizer que são as solidas fundações de uma banda, mais condições de criarem livremente eles tem. Se você está lutando para pagar o aluguel, é improvável que você vá escrever um hit quando está no modo de sobrevivência. Eu suponho que se você pensa que deu certo (suas finanças) ou não, realmente depende se você gosta de seus álbuns. Eu não poderia comentar.”
Gostaria de deixar os créditos da matéria, publicada no The Guardian por Alex Marshall em 29/04/2016, para ler a matéria original em inglês, clique aqui. Fotografia de Yui Mok/PA.
A reportagem apresenta uma ótica estratégica sob a qual constituímos nossa consultoria. Nos faz refletir o quanto podemos avançar e aproveitar oportunidades elencadas a inovação e contribuir para alavancar sua companhia. Continuamente assisto a empresas não aproveitarem oportunidades e não mudam a forma de gerir o seu negócio, por desconhecimento ou conservadorismo. Atuar de forma dinamicamente arrojada pode vir a representar risco, o que é quase impossível de anular se pensarmos que tudo o que nos remunera acima da média envolve alto grau de risco. E analisar tudo sobre a ótica de risco elevado pode representar um erro, pois uma operação por parecer dinâmica e complexa não significa que seja extremamente arriscada. O importante é manter a mente aberta e os ouvidos atentados, pois ouvir, reunir informações e propostas é a melhor opção para uma tomada de decisão consciente.
Na reportagem da engenharia financeira do Radiohead, esta é produto da inovação e do exercício constante de se negar a fazer o mesmo, é encontrar oportunidade no meio onde existe e assistir, estudar e ouvir atentamente a planos, ideias e propostas, isto pode lhe render um retorno inesperado e parte simplesmente de uma atitude proativa que quebrou um paradigma.
Rony George Campos Francisco
Sócio – Diretor na Inova com Valor Consultoria e Gestão Estratégica Empresarial
Contador pela Universidade Bandeirante de São Paulo